Os negócios com amigos são fascinantes, quando ainda estão nas idéias. Tipo, uma idéia fantástica de trabalho com um amigo fantástico trabalhando junto? Como dar errado? Fácil!
Tenho algumas histórias para ilustrar isso.
Comigo nunca deu certo e olha que tentei e tento até hoje.
“De criança” quando o “negócio” era emprestar, trocar e dar coisas que a gente tinha. Sempre deu confusão.
Uma vez com 8 anos, uma coleguinha me emprestou 8 pulseiras de ouro durante o recreio, acabou o recreio não encontrei ela para devolver, não tive dúvida, tirei do braço e deixei no muro onde estávamos sentadinhas. Quando encontrei a menina, ela perguntou das pulseiras e eu disse que estavam lá no murinho. Claro que não estavam mais ... foi um fuzuê de choro, da menina, meu e no final, minha mãe teve que pagar as pulseiras pra ela. Ainda bem que eu era bem pequena e não me lembro dela ter ficado brava comigo. Mas lembro dela dizendo “não pegue mais coisas dos outros emprestado”. Eu respondia chorando ... mas ela que insistiu ... e tinha sido mesmo ...
“Mais Mocinha”, já morando em São Paulo com 17 anos, fiz de novo (risos). Eu morava num pensionato com 42 meninas e fui pedir uma roupa emprestada para aparecer de figurante num programa de TV. Acabei pegando um conjunto de blusa e bermuda de seda de uma menina que eu mal conhecia. Lá na correria de ter que voltar cedo acabei esquecendo a bermuda da guria num camarim qualquer do SBT, lá no Carandiru. Outro escândalo, fiz de tudo para resgatar a maldita bermuda, mas claro, nunca encontrei. Meu Pai nem sabia dessa coisa de programa, morava no interior e me pagava o pensionato e a faculdade. Só. Aliás, fui lá porque tinha um cachê de uns R$ 50,00 + jantar (excelente!). Resultado, tive que contar pra ele, agüentar a histérica da menina na minha orelha. Ele pagou, quase me matou, fiquei sem mesada uns 3 meses e odiada pela menina forever ...
Aí descobri que negócio com amigo só tem 2 caminhos, ou você sacrifica o negócio ou sacrifica a amizade ...
É até um teste para a amizade, ainda bem que tenho exemplos onde a amizade foi preservada. Mas o “negócio” foi-se ...
Uma vez uma super amiga me conseguiu um emprego, tempos depois ela precisou e indiquei-a para a
empresa que ela havia me indicado. Trabalhamos juntas felizes um bom tempo. Quando o dono da empresa ofereceu a ela o dobro do salário e com isso teria que me demitir. Essa era a idéia dele para enxugar a empresa. Minha amiga me contou, conseguimos outros empregos e fomos embora juntas de lá. Perdemos esse emprego, mas nossa amizade dura até hoje ...
Então, um amigo me chamou para ser assistente dele, numa empresa de letreiros. Chego lá e o escritório era grudado ao pombal dos pombos-correios que ele criava. Detalhe, parte do meu trabalho de assistente era ajudar a cuidar dos pombos ... Ele sumia e eu tinha que cuidar do escritório e dos pombos. Durou uma semana ... kkk ... mas também saí de boa ...
Outro exemplo é de um amigo querido, dentista. Fui me tratar com ele, que é excelente por sinal, conseguimos ir bem por um tempo.
Depois, devido à intimidade, até probleminha com marcação de horário gerava discussão. Um dia eu disse “olha eu gosto tanto de você que não vou mais ser sua paciente, prefiro você como amigo!” Rimos muito e também somos amigos até hoje.
Quando abri minha primeira clínica, também foi com uma grande amiga. Ali, por falta de grana, uma continuava no emprego e a outra no negócio. Esse esquema não funciona. Não chegamos a brigar, mas ela saiu do negócio e eu continuei. Essa amizade achei que ficou estremecida ... infelizmente ... como eu disse nunca discutimos nem brigamos mas perdemos a intimidade ... Hoje ela mora em outra cidade, mas mora também no meu coração, ela sabe disso e se estivéssemos mais próximas já teríamos resgatado isso.
Junto com a clínica, inventei moda de fabricar velas artesanais com uma amiga para vender. Eu trabalhava a semana toda e nos finais de semana ia fabricar velas. Foi divertido no começo, mas depois começou a ficar cansativo pra mim, era longe e as tais velas davam um trabalhão pra fazer. Minha amiga sozinha não dava conta de produzir e perdemos todo o investimento: as vasilhas estão lá até hoje, e, foi tão estafante para as duas que nem abalou nada. Demos graças a Deus de acabar com aquilo
Por fim tentei trabalhar com meu ex-namorado. Aí que a vaca foi para o brejo mesmo!!! Além das nossas discussões pessoais, somavam-se as discussões profissionais. Caos foi pouco. Mas também desistimos a tempo e nem foi por isso que viramos ex.
Uma coisa que eu acho que funciona é fazer amigos trabalhando, tipo caminho inverso. Primeiro você trabalha e depois fica amigo. Parece que assim as coisas não se misturam tanto. Porque a intimidade vai sendo criada, independente do lado profissional.
Em resumo, pelas minhas experiências o complicado de você trabalhar com amigo é que trabalho tem que ser cobrado e amizade não suporta cobrança. Ou o inverso. O trabalho vai bem, mas qualquer desconforto ou desentendimento pessoal atrapalha o desempenho.
Temos uma tendência a querer ajudar os amigos, mas talvez a melhor ajuda não seja dando trabalho, trabalhando junto ou ajudando financeiramente.
Talvez o melhor apoio seja dar idéias, conforto, companhia, estímulo porque quem dá “só” isso ganha pontos como amigo.
Amigo é pra tomar cerveja, dar risada, contar histórias, fazer e ouvir confidências, poder ligar de madrugada ..., chorar no ombro ... consolar ... Amigo não tem mistério, nem frescura ... se a bronca for para o bem, aceita de boa ... Amigo faz favores sem cobrar nada e fica feliz por poder ajudar. Amigo não mente, não trai porque sabe que não tem riqueza maior no mundo. Do que poder ter amigos. Amigo se erra vai lá e pede desculpas, conserta, luta, não deixa a riqueza se perder ...
Isso tudo não combina com trabalho, responsabilidade, horário, dinheiro, prazos, acasos, cobranças e tudo mais que negócios representam.
Eu, por mim, prefiro ficar com meus amigos...