segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A Faxineira que virou depiladora



















Fátima era analfabeta, tinha 5 filhos, foi indicada por uma depiladora minha para trabalhar no salão como faxineira. Ela limpava a casa como eu nunca vi... até os azulejos da cozinha ela limpava com escovinha de dentes, um capricho!
Mas eu não me conformava com o fato dela não saber ler e escrever, resolvi ensina-la, comprei cartilhas, joguinho de letras, ficava pelo menos uma hora por dia com ela, tentando ver se ela aprendia algo. Era muito difícil, ela já tinha uma certa idade e eu não tinha didática nenhuma... mas eu ia tentando e ela também. Devagar pelo menos o nome ela já conseguia assinar... conta ela sabia fazer de cabeça era esperta a bichinha...
Mas como em toda empresa, vassoura nova sempre varre bem, durante um tempo ela foi exemplar na limpeza, mantinha o salão impecável, comecei a dar a ela além do salário uma cesta básica para ajudar em casa afinal 5 filhos não era bolinho.
Todo Natal fazíamos festinha no final do ano e eu sempre presenteava todos os filhos dela. E eu fazia de coração pois ela era realmente empenhada... Ela ficou 4 anos comigo. Com o tempo fui ensinando ela a mexer com a cera de depilação e aos poucos comecei a ensina-la a depilar, eu e as outras depiladoras, todo mundo ajudava a Fátima. Minha idéia é que ela evoluísse, aprendesse uma profissão melhor, e ela foi aprendendo... não só as coisas boas como as coisas ruins também... conforme a empresa foi crescendo e a quantidade de funcionários aumentando também aumentaram as maçãs podres e infelizmente toda capacidade que ela tinha pra aprender também tinha para se influenciar... e Fátima começou a mudar...
Começou a perder a humildade, a se achar..., passou a reclamar do serviço, do horário, do ganho, começou a chegar tarde, em vez de dar o bom exemplo para as novas ela foi se estragando com as más influências, foi se debandando para o lado de lá... o processo foi lento eu demorei para acreditar, mesmo porque toda a empresa estava de degringolando sem que eu percebesse. Na fase ruim, aquela pior de todas, ela não foi trabalhar com a massagista, ficou como depiladora, já estava fazendo clientela, eu naquele turbilhão tentando salvar as coisas, chegou num ponto que ela era a única depiladora da casa, pois a massagista levou a outra, tudo dando errado e ela veio e pediu as contas. Eu não tinha nem dinheiro pra pagar a recisão dela, fíz um acordo para pagar parcelado em 10X, ela aceitou e eu fui na tempestade por mais 9 meses, tive que aprender a depilar para não ter que contratar mais ninguém, eu estava ficando totalmente sózinha a falência já tava batendo na porta, chegou um ponto que eu só tinha uma funcionária, nova tinha entrado a 3 meses, praticamente para me ajudar a fechar. Então veio a punhalada fatal.
Quando faltava o último pagamento do acordo dela, eu estava numa situação desesperadora e atrasei 2 dias para paga-la. Recebi um telefonema anônimo dizendo que se eu não pagasse eu iria me arrepender. Não entendi mas paguei, no dia seguinte apareceram 2 fiscais da justiça trabalhista dizendo que receberam uma denúncia de que tinha gente trabalhando sem registro no salão, eu só tinha aquela coitada que estava me ajudando a fechar, as fiscais ficaram até com dó de chutar o cachorro morto, mas mesmo assim me fizeram registrar a menina mesmo sabendo que eu estava para entregar a casa. Mais prejuízo, mais dor de cabeça e tudo a troco de nada pois nessa altura do campeonato eu já estava decidida a não ter mais negócio. E foi ela que me denunciou, junto com uma recepcionista antiga. Acreditem ou não... tempos depois... ela me ligou em casa para perguntar se eu tinha trabalho pra ela, essa gente é caruda mesmo não? pra essa eu respondi bem mau educada que se eu a visse passando fome na minha porta junto com um cão era mais fácil eu alimentar o cão. Pelo menos eu não me arrependeria depois.

A primeira Massagista



















A Sil era massagista, uma excelente massagista, diga-se de passagem, fazia uma massagem estética como ninguém, trabalhou comigo por uns 2 anos fêz uma clientela super legal, tinha fila pra fazer massagem com ela, muito simpática, falante e muito inteligente, um amor de funcionária...
Me conquistou assim com competência, bom humor, esperteza e dedicação. Claro que ela tinha defeitos, defeitinhos como ser consumista ao extremo, gastava feito uma doida comprava tudo que via pela frente, nunca me esqueço quando um vendedor de sapatos foi no salão e ela comprou 4 pares, nesse ponto ela era completamente descontrolada. Gastava seu salário todo praticamente antes de receber, eu que controlava as contas dela, pagava a escola das crianças antes que ela gastasse tudo que ganhava.
Eu confiava nela plenamente...era mais uma funcionária-amiga aquelas que sabe da sua vida, desabafa contigo os problemas dela, ela tinha 2 filhas e um marido meio folgado que não gostava muito do batente não, ela que acabava levando a grana pra casa.
Um belo dia ela pediu as contas assim, do nada, sem motivo algum, disse que iria trabalhar em outro lugar para ganhar mais, eu adorava ela mas não podia cobrir a tal oferta que ela tinha recebido, desejei boa sorte e ela se foi... para o salão foi uma perda e tanto afinal ela tinha realmente muitas clientes... mas se era para algo melgor pra ela... tudo bem...
Uma semana depois uma outra funcionária minha me disse que ela não iria para outro emprego, mas sim que ela iria abrir um salão pra ela ali por perto... já achei aquilo uma traição afinal, se era assim ela poderia ter falado comigo, se tinha grana pra abrir um salão poderia ser minha sócia... não entendi direito...
O babado é que ela não tinha essa grana... mais ou menos um mês depois que ela saiu, chegou a intimação do processo trabalhista contra mim, pedindo R$ 18.000,00, aí estava a grana para ela montar seu salão...
Por ser meu primeiro processo entrei em pânico junto com a depressão e a tristeza de ter sido traída por alguém que eu tive toda consideração do mundo, fui correta o tempo todo eu fiquei arrasada com isso... mas precisava enfrentar... e fui adiante...
Não perdi tudo que ela pediu, mas perdi muito mais... ela alugou uma casa a 3 casas do meu salão, na mesma rua, no mesmo quarteirão... para eu chegar para trabalhar tinha que obrigatóriamente passar em frente ao salão dela. Não contente com isso, ela me levou mais 6 funcionárias, prometendo mundos e fundos, precisei trocar quase todo o meu pessoal, isso num salão de beleza é a pior coisa que pode acontecer..., ainda não contente ela insuflou mais 2 a me processarem também!! em menos de 1 ano fui 3 vezes na frente do juiz me explicar por ter sido tola, boba e acreditar nas pessoas...
A partir daí tudo que era sucesso passou a ser dívida... tudo que eu construi com tanto carinho, tava ali capenga, sem dinheiro , cheio de problemas mas eu ainda acreditava e lutava para salvar, sem saber que aí começou a falência de tudo... inclusive da minha vontade, fui ficando triste...
Um dia, uma cliente minha que havia ido no salão dela me alertou... disse que lá a mãe dela fazia macumba da brava para que meu salão fechasse, eu nunca acreditei nessas coisas, pensava se eu não acredito e sou do bem em mim não pega.
Descobri que pega, não sei como, mas pega, a quantidade de energia negativa que veio de lá, arrasou com minha prosperidade... até incêndio aconteceu no meu salão. Foi o pior período da minha vida.
Um ano depois o salão dela fechou, mas aí o estrago já tinha sido feito, eu apenas estava arrumando a casa do incêndio (essa é outra história macabra) para entregar o imóvel, isso durou mais um ano...
Quando faltavam dias para eu entregar a casa recebi um telefonema, adivinhem de quem... dela mesma pessoalmente, me pedindo desculpas e perguntando se eu não teria o emprego dela de volta...
Eu não sabia se ria ou chorava... mas calmamente perguntei a ela, vc conhece a fábula da galinha dos ovos de ouro? ela disse sim conheço e eu disse pois é... vc matou a galinha... agora era tarde demais.

A saída



















As saídas são sempre dramáticas...ou dissimuladas a de Val foi dramática. Eu já estava estranhando o comportamento dela, quando começaram os rumores de que ela estava bebendo na hora do almoço, saía para almoçar tomava conhaque com cerveja e voltava para atender clientes, mas eram apenas rumores eu não podia demiti-la por algo que não tinha provas, essa é nossa lei, quem demite por JUSTA CAUSA, tem que provar o delito do funcionário, como se isso fosse fácil! Além de cuidar da empresa tinha que ficar esperando ela cometer um delito grave com testemunhas, para poder demiti-la sem pagar por isso.O dia chegou, ela saiu para almoçar e ficou fora por 2 horas, a outra manicure sem comer e ela não voltava do "almoço" mandei uma pessoa chama-la, a resposta foi que ela já viria, mas não veio, ela tinha uma cliente marcada que chegou para ser atendida e ela no bar, o sangue me subiu e fui pessoalmente atrás dela. Ela estava saindo do bar calmamente, rindo como se não estivesse fazendo nada de errado, cheguei bem perto dela dela e disse baixinho, apesar de fervendo por dentro, mas estávamos na rua, acabou Val vocë está demitida e virei as costas pra ela retornando para o salão. Essa mulher começou a gritar como uma louca! mas gritava mesmo! dizia que eu era ingrata! gritava tanto que comecei a andar mais rápido, todos da rua estavam vendo aquilo coisa de doido mesmo. Claro que ela havia bebido e estava descontrolada, entrei no salão ela entrou atrás de mim, urrando com clientes na casa, com funcionárias perplexas parecia um filme de terror. Ela entrou no escritório ainda gritando, eu repeti que ela estava sendo demitida por justa causa, ainda dei a ela a chance de se demitir, ela amassou o papel e jogou a caneta em cima da mesa, desceu as escadas agora chorando escandalosamente, pegou sua bolsa e foi embora. Nunca mais eu vi Val, mas o estrago que ela causou na minha empresa eu só iria saber um tempo depois... Ela não me processou, não tinha como, mas deixou um rastro de destruição inacreditável... ali naquele dia meu sonho lindo de ter uma empresa começou a desmoronar...

Val a primeira Manicure















Val foi minha primeira manicure, eu já tinha duas depiladoras muito boas, de tanto as clientes pedirem a tal manicure, acabei cedendo, eu diria que esse foi meu primeiro grande erro como adminisradora, ceder a tudo que as clientes pediam em vez de seguir minha idéia inicial que era uma clínica de depilação.Que estava indo muito bem obrigada até a chegada de Val. Uma senhora, mulata super simpática, excelente manicure, rápida, caprichosa. solícita, tudo de bom. Ela topava tudo, queria conquistar clientes, como era a única manicure, chegava cedo e saía tarde. Eu estava super satisfeita, o negócio crescendo, os horários apertando, chegou uma hora que ela não conseguia mais atender a demanda, eu precisaria de mais uma manicure. Na minha euforia, nem percebia que os esmaltes importados iam desaparecendo aos poucos, às vezes o caixa não batia mas tudo bem, elas eram confiáveis... um dia o rombo foi grande desapareceram R$ 300,00 da pasta de pagamento das funcionárias, foi aquele rebuliço e o dinheiro foi achado no dia seguinte, num lugar inusitado. Deixei pra lá, quem sabe eu guardei lá e me esqueci... Acabei contratando a segunda manicure, que para o desespero de Val trabalhava melhor do que ela, consequentemente ela começou primeiro a dividir suas clientes, depois a perde-las visívelmente... nisso tudo já fazia um ano que ela estava lá comigo, e as coisas sumindo... e eu não percebia, já estava com 4 funcionárias o negócio continuava crescendo, o dinheiro entrava, nada parecia errado. Mudei para uma casa maior, e Val começou a ficar esquisita, perdeu a alegria, parou de rir, começou a atrasar, faltar sem motivo e a outra absorvendo todas as clientes. Mesmo assim elas ainda trabalhavam bem, até que um dia uma cliente muito constrangida veio falar comigo a respeito de um dinheiro que ela havia emprestado a Val e não estava conseguindo receber, eram R$ 300,00. Quando ouvi o valor, me lembrei do dinheiro que "andou" a quase um ano atrás. Dei uma bronca nas duas, na cliente por ter emprestado e em Val por ter pedido, aquilo era o fim da picada! Descontei do salário dela e paguei a cliente. Quando comentei com minha irmã sobre essa história ela me contou que também já tinha emprestado cinquentão para Val que nunca devolveu. Eu SEMPRE ERA A ÚLTIMA A SABER DAS COISAS aquilo começou a me apavorar, E resolvi que ia demitir Val. mas para isso eu precisaria contrata-la, ela já estava a quase dois anos na casa e não tinha carteira assinada, ninguém tinha, nessa época já eram 5, tinha uma massagista também, contratei um advogado para me orientar, pois o salão funcionou um tempo sem firma aberta, eu não tinha experiência nenhuma, aquele caos. Abri a firma e registrei todo mundo mas era tarde demais, todas elas já tinham quase 2 anos de casa tive que seguir como estava, tentando fazer as coisas mais certas dali pra frente. Depois do registro todas mudaram mas Val que estava acostumada com a bagunça, definitivamente não se adaptou aos DEVERES de um funcionário registrado. Horário de chegada, almoço e saída ela ignorava, sobrecarregava a outra manicure pois nunca estava presente, foi ficando mau humorada e relapsa, começou a fazer as unhas das clientes de qualquer jeito, reclamações, não dava mais eu já estava planejando a demissão dela quando o destino acelerou as coisas...

Ingênuidade


Quando a alguns anos atrás resolvi montar um negócio, um instituto de Depilação, nunca imaginei que fosse tão difícil a relação empregadoXpatrão e é bem assim mesmo, um Versus o outro, um precisando do outro mas ao mesmo tempo, é uma guerra, velada, escondida mas uma guerra, na minha opinião sem vencedores.
Claro que não estou aqui para generalizar todos os empregados, existem os bons e falarei deles também, mas o que pude observar, pelo menos na minha pequena experiência, é que emprego todo mundo quer, trabalhar... nem todos. Direitos todos tem, deveres... pra que??
Nossa lei trabalhista é paternalista ela protege o empregado sempre, isso criou um vício neles, o vício da impunidade, se a coisa acabar na justiça eles vencem... não me conformo que seja assim... mas é.
Micro empresas então, não tem chance, a lei é a mesma para elas e para as grandes, que podem se defender, as micro podem falir e é o que ocorre muitas vezes.
Eu fui uma que abri um empresa cheia de sonhos, imaginei que eu mudaria a vida de um monte de gente, pensei estar formando pessoas, profissionais do bem, me esforcei muito pra isso... mas é dar nó em pingo d´agua... ninguém da valor pra isso.
Passei por poucas e boas, por isso resolvi criar esse Blog, para desabafar o que eu penso sobre essa relação, para relatar os casos escabrosos que aconteceram comigo, para ouvir histórias que não sejam minhas, enfim vamos ver no que vai dar!